domingo, 14 de setembro de 2008

Olhai os lírios do campo!
Esta é uma das citações mais conhecidas da Bíblia. Faz parte de um dos mais belos momentos vividos pelos discípulos na companhia de Jesus. A essência de seu discurso envolvia a questão da ansiedade das pessoas, já naquele tempo, com a sobrevivência, com o vestir, o ter, o exibir. Na sua palavra, Jesus exortava os presentes no sentido de não se angustiarem tanto com as necessidades do dia a dia. Muito sabiamente, Jesus já preparava as pessoas daquele tempo - e dos tempos atuais - a respeito da importância de preservar sua qualidade de vida, não permitindo a ocupação da mente com pesos em excesso nem com uma configuração de vida super avaliada nas coisas materiais. Aliás, Jesus também deu uma certa importância às demandas materiais de nossas vidas, deixando bem claro, porém, de que nossa preocupação com essas coisas deveria caminhar até um certo limite. A partir daí...
“Olhai os lírios do campo!” Ao fazer tal afirmativa, Jesus queria ampliar nossos horizontes. Sabe-se que no campo existem armadilhas contra a vida. As aves de rapina, os répteis, os rigores do inverno, o calor inclemente do verão. Os predadores, os animais de grande porte, as ervas daninhas... Apesar disso tudo, os lírios também surgem, emoldurando com sua beleza uma nova realidade. O problema é quando o campo, em síntese, na ótica de Jesus, uma alegoria da vida, do mundo, é visualizado somente através das grossas lentes do negativismo gratuito. Apesar de todas as adversidades da vida, há sempre a presença de algo belo a ser visto, focalizado, priorizado. E que, diante de um vastíssimo leque de sentimentos que a vida nos impõe, tais como o egoísmo, o individualismo, a soberba, a arrogância, há sempre a chance de cultivarmos o belo, o frutífero, o substancial, o edificante.

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Ao que tudo indica, a planta que Jesus nomeou em seu discurso como lírio é hoje conhecida com o nome científico de “anemone coronária”. Tinha uma haste de uns 40 centímetros e pétalas vermelhas, púrpuras, azuis, róseas ou brancas. Como se vê, algo de uma beleza realmente estonteante em meio à aridez do solo palestino. Segundo relatos históricos era uma planta de floração comum na região, florescendo próxima ao tempo da colheita do feno. Devido à sua beleza, já era usada em larga escala na decoração dos ambientes requintados, bem como nas casas simples dos moradores do campo. Era, por assim dizer, um referencial de beleza, de nobreza, de excelência decorativa. Uma planta que realmente fazia a diferença. É nesse ponto que quero destacar o eixo sobre o qual gira o ensinamento de Jesus. Fazer a diferença. Priorizar sentimentos nobres sobre o negrume dos valores cultivados atualmente.
Há momentos na vida em que a mente se fecha. O horizonte divisado vai somente um pouco além das agruras do dia a dia. O belo da vida se perde diante da feiúra do contexto da existência. É preciso romper essa linha divisória que demarca a tristeza da alegria, a angústia da paz, o caos da ordem, da serenidade, da esperança. Quando o campo da existência está recheado de abutres, répteis e ervas daninhas, é necessário se crer que, mesmo num campo assim, a semente do lírio está lá, latente, pronta a brotar – a se fazer presente. A irradiar a vida com a variedade de suas cores, a emergir bela, firme, altaneira em meio à aridez da geografia social da atualidade. “Olhai os lírios do campo” é em sua essência uma receita inteligente de vida. Ou por outra, uma concepção ideal de vida para quem deseja enxergar a realidade atual como algo mais do que um mero passar de dias.

(Públio José, jornalista, publicitário)
O jardim de Giverny

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Um dos criadores do movimento artístico chamado Impressionismo, do final do século 19, Claude Monet comprou, em 1890, uma casa e terras em Giverny, uma vila às margens do rio Sena, 60 quilômetros a noroeste de Paris. Lá ele criou um grande jardim florido, bem próximo de sua casa e, no pedaço de terra restante, mandou construir um lago que ele encheu com milhares de lírios multicoloridos. Como ele mesmo dizia, era “para o prazer de seus olhos e para servir de tema para a pintura”.

Esses jardins tornaram-se seu tema principal pelo resto da vida. A pintura de Monet a partir do Século 20 faz lembrar o estilo japonês, com pontes arqueadas atravessando o lago, com o reflexo das árvores, misturando-se com os lírios pairando sobre a superfície da água.

Considerando a geografia local e a obra paisagística, a propriedade pode ser dividida em duas partes. A primeira chamada Le Clos Normand e a outra Le Jardin D´eau.
Le Clos Normand, primeiro pedaço de terra comprado por Monet possui 1 hectare, e um jardim feito de perspectivas, simetrias e cores. Nesse terreno, ele plantou flores perenes de tamanhos variados criando uma agradável sensação de volume, árvores frutíferas e ornamentais dominando o campo de visão. Várias flores foram misturadas neste terreno, em especial as margaridas e papoulas. O corredor central é coberto por arcos de ferro com rosas pendentes. Suas plantas foram escolhidas pela tonalidade de suas cores e deixadas crescer livremente pelo terreno, sem preocupação com as podas.

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Em 1893, dez anos após sua chegada em Giverny, Monet adquiriu o terreno ao lado do seu. Aí, passava um pequeno riacho chamado Ru , onde Monet criou uma pequena lagoa, que posteriormente tornou-se sua maior obra paisagística. O Jardim Aquático (Le Jardin D´eau), diferentemente do Clos Normand é cheio de curvas e elementos assimétricos, inspirado nos jardins japoneses que o pintor conhecia através de quadros da sua coleção.

Nesse jardim podemos encontrar a famosa ponte japonesa e as ninpheas, tão elegantemente retratadas em suas pinturas. Com esse pano de fundo, Monet pode se inspirar por mais de vinte anos, dedicando-se a retratar sua natureza repleta de cores, reflexos, transparências e formas.

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O Jardim de Giverny pode ser hoje admirado pessoalmente (fica a 70 km de Paris) e através dos seus inúmeros quadros expostos em espaços como o Musée D´Orsay e o Musée l´Orangerie, na capital francesa.

A primavera começa oficialmente às 12h44 do próximo dia 22. Mas já dá pra sentir no ar os sinais da chegada da nova estação. Além da mudança no regime de chuvas e temperaturas na maior parte do Brasil, os dias parecem mais alegres, iluminados por deslumbrantes de explosões de vida.
No final da tarde de ontem, em menos de 30 minutos sentado no quintal de casa, recebi a visita de um beija-flor, um bem-te-vi e três pequenos tico-ticos (que anos atrás apareciam aos montes e que atualmente parecem estar em plena extinção).
Na hora, bateu saudades da bela paineira-rosa que havia na porta da casa onde vivi os melhores anos da minha infância, em companhia de goiabeiras, mangueiras, abacateiros, laranjeiras e bananeiras que, generosamente, nos alimentavam com seus frutos e embelezavam o quintal com suas flores.

Paineira-rosa

Flor de goiabeira

Flor de laranjeira

Coreopsis, conhecidas como margaridinhas-amarelas. Estas lindas flores-do-campo (na foto com mosquitinhos brancos) nasciam às moitas em todo pasto ou terrenos abandonados de Marília em companhia de outras maravilhas da natureza como as das fotos abaixo, que deram um colorido especial aos caminhos da minha infância e hoje estão também praticamente extintas na região.

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Primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, - e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, - e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, - e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, - e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida - e efêmera.
(Cecília Meireles)

A terra é insultada e oferece suas flores

como resposta. (Rabindranath Tagore)

sábado, 6 de setembro de 2008

Grelhados realçam ainda
mais o sabor da comida


Grelhar é uma das formas mais antigas e mais rápidas de cozimento. Por ser tão rápida, é melhor usar apenas carnes e ingredientes em pedaços pequenos, como bifes, costelas e legumes fatiados... Além das carnes e legumes, frutas grelhadas ficam deliciosas. O grelhado pode ser diretamente sobre o fogo (como no churrasco) ou sobre uma grelha elétrica. Este é o método que melhor conserva os princípios nutricionais dos alimentos.

O preparo de delícias na grelha

O ato de grelhar (a exposição direta dos alimentos a uma fonte de calor) é a versão moderna da mais antiga técnica culinária do homem assar comida diretamente sobre uma fogueira. Os alimentos grelhados têm sabor intenso, resultado de um processo chamado caramelização, que ocorre quando a superfície de um alimento qualquer é submetida a temperaturas muito altas.
Independente de ser alimentada a gás de cozinha, eletricidade ou carvão, a grelha exige temperaturas de 4 a 6 vezes mais altas do que aquelas que podem ser atingidas num forno. Os alimentos mais indicados para grelha são os alimentos de cozimento rápido, como peixe e cortes mais finos de carnes e aves.

Preparar alimentos na grelha não requer maiores cuidados prévios. Apenas pincele óleo, para evitar ressecamento, podendo acrescentar algumas pitadas de ervas. Use pouco óleo para não adicionar calorias desnecessárias. Os alimentos mais delicados, como peixes e vegetais, são mais fáceis de manusear quando dispostos sobre uma bandeja metálica gradeada, própria para grelha.

Grelhar as frutas é uma maneira excelente de ressaltar seu sabor doce e maduro. Quase todas as frutas podem ser preparadas assim. O calor da churrasqueira é ideal para grelhar frutas pinceladas com especiarias (como canela em pó) ou embrulhadas em papel-alumínio.

Uma sugestão prática, de fácil preparo e deliciosa:

Filé mignon grelhado com abacaxi

Ingredientes:
4 medalhões de filé mignon
1/2 abacaxi médio
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
1 colher (chá) de pimenta-do-reino moída na hora
sal a gosto

Modo de preparo:
Lave os medalhões, seque com toalha de papel e unte-os com o azeite de oliva. Polvilhe com a pimenta-do-reino e reserve. Descasque o abacaxi e corte 4 fatias de 1 cm de espessura. Reserve. Coloque os medalhões na grelha e deixe até dourar dos dois lados. Assim que a carne estiver pronta, polvilhe o sal e vire de lado para tomar gosto. Na mesma grelha, disponha as fatias de abacaxi e grelhe por 2 minutos. Retire do fogo, distribua as fatias de abacaxi nos pratos, coloque os medalhões por cima e sirva com arroz branco, fritas, salada de agrião. os deliciosos quiabos grelhados e as batatas risolet das receitas abaixo.

Abacaxi grelhado com canela. Ótimo acompanhamento para carnes grelhadas. Corte um abacaxi em rodelas, polvilhe com canela e leve a grelhar.

Quiabos grelhados no George Foreman temperados
com azeite, sal, alho e urucum moído na hora.


De origem africana e trazido para o Brasil juntamente com os escravos, o fruto do quiabeiro, Abelmoschus esculentus, é um exemplo de uso de alimentos associado às mais bonitas raízes culturais brasileiras. Sua presença compõe pratos típicos regionais, seja como alimento ritual de festas religiosas como o Caruru: quiabo cozido com camarão seco, prato principal na homenagem da Bahia aos santos meninos Cosme e Damião, seja através da tradicional culinária mineira, com o Frango com Quiabo e o Refogado de Carne com Quiabo.
Utilizado nas mais diversas formas de preparo, refogado, frito, cozido ou assado, o quiabo também possui qualidades medicinais e terapêuticas reconhecidas nos tratamentos de doenças do aparelho digestivo. Na hora de comprar, não esqueça: quiabo bom é quiabo novo, isto é, o quiabo pequeno, ainda imaturo.
Batatas Risolet ao Alho
Delícia da culinária francesa. Guarnição
saborosa e fácil de preparar

6 batatas sem casca, 6 dentes de alho picados, 100 gramas de bacon em cubos pequenos, 1 colher (sopa) de manteiga, 1 colher (sopa) de salsinha picada, sal.
Corte as batatas em cubos médios e cozinhe, tomando o cuidado de mantê-las firmes. Escorra e reserve. Em uma frigideira, aqueça a manteiga e frite o bacon. Quando estiver dourado, acrescente o alho. Assim que o alho começar a dourar levemente, adicione as batatas reservadas e refogue-as em movimentos rápidos. Assim que as batatas estiverem douradas, desligue o fogo e salpique a salsinha. Mexa bem e sirva como acompanhamento.

Dica do chef Rodrigo Anunciato, editor de conteúdo de Cyber Cook e professor de Gastronomia na Universidade Católica de Santos. Foto: Douglas Tadeu Aby Saber Filho.