sábado, 4 de abril de 2009

(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
Vasculho cada palmo desta cidade
Consulto seus escaninhos mais escuros
Meço os pórticos que contam sua idade
(Bebo, nos seus frontões, a eternidade)

Vasculho cada palmo desta cidade
E me emaranho todo

Mergulho em cada lago desta cidade
Mas não compactuo com seu lodo


Poema VI(s)TORIA, de José Irmo Gonring, jornalista e professor do depto de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo. As fotos desta e da próxima postagem são de Maurício Leme, o melhor fotógrafo aéreo de Marília.
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Comemorando hoje 80 anos, atualmente com mais de 220 mil habitantes segundo o último censo do IBGE, importante pólo regional do oeste paulista, o município de Marília está localizado a 675 metros do nível do Atlântico Sul, numa área de 1.170 km2 até a segunda década do século passado habitada pelos índios Coroados ou Caingangues, cruelmente massacrados pelos primeiros colonizadores brancos da região, fato completamente ignorado pela história oficial da cidade.

AMIGOS DO PEIXE
Na contramão das entusiásticas comemorações oficiais do dia na província “Símbolo de Amor e Liberdade”, proponho uma ligeira reflexão sobre o assunto, tema de um antigo projeto de documentar a história desses seres que, em total harmonia com a natureza, habitavam as terras onde hoje se localizam Marília e outros municípios da região, ressaltando também a degradação ambiental, a poluição e assoreamento atuais do rio do Peixe e sua bacia.
Do projeto inicial fazia parte uma reportagem/documentário em forma de livro e a produção de um DVD/documentário mostrando a história e a atual situação do rio (AMIGOS DO PEIXE é o nome que eu havia escolhido). A idéia era realizar um excursão reconstituindo as dos primeiros homens brancos na região, incluindo uma reportagem fotográfica aérea mostrando o rio do Peixe das suas nascentes em Garça ao encontro com o rio Paraná, produzir esse material para distribuí-lo e expô-lo em mostras itinerante nas escolas da cidade - coisa de um jovem sonhador que logo caiu na real e desistiu da idéia por saber que não encontraria apoio para executá-la.
À propósito do aniversário de 80 anos de Marília, comemorado neste sábado com desfile cívico militar e diversos eventos, de exposição de orquídeas a um tal de Carnapeão reunindo (eca!) breganojo e axé music, resolvi lembrar nesta postagem dois trechos do livro que quem sabe um dia venha a público:
“Por essa época e nessas paragens é que nascem e se avolumam as dadas, nome de um grupo de brancos armados até os dentes e organizados com a finalidade de chacinar índios - homens, mulheres e crianças, sem exceção. Descritas por diversos autores, as dadas revelam cenas de tal crueldade e requintes em assassinar e esquartejar índios, inclusive crianças e mulheres, que por certo deixam os bárbaros bem para trás”, conta José Antonio Tobias.
Dando uma idéia de como eram planejadas e executadas as dadas, os livros Recanto do Sertão Paulista, de Amador Nogueira Cobra e Marília, Cidade Nova e Bonita, de Balthazar de Godoy Moreira e Alcides Lages de Magalhães, descrevem as dadas com cenas comuns como levantar indiozinhos ou do leito e de os atirar para o ar espetando-os depois na ponta do facão ou, tomando-os pelos pés e dando com as cabecinhas deles em paus até parti-las, ou então rasgando o ventre das mulheres grávidas...”
As duas obras citadas foram editadas na década de 1930 e podem ser encontradas na Biblioteca Pública Municipal.

Ficou chocado (a) com o que acabou de ler acima? Vê só esse trecho da conferência pronunciada pelo Frei Bernardino de Lavalle, capuchinho, no dia 24 de novembro de 1902, em São Paulo:

“Nas vizinhanças dos rios do Peixe, Feio, Dourado e Batalha, esses sangrentos ataques se transformam em sangrentíssimas e cruéis carnificinas contra os infelizes índios e levadas a efeito por ‘capangas’ desumanos e criminosos, nacionais e estrangeiros, que, mais bárbaros e ferozes que os próprios selvagens, realizam verdadeiras caçadas humanas, trucidando desapiedadamente os índios, sem distinção de idade e sexo, e terminando por exterminar inteiras aldeias, cujos espólios são expostos em nossas cidades e outros países.
Não quero aqui citar nomes mas declaro que vive ainda alguém que em 1886 não teve escrúpulos em fornecer um quilo de estrequinina para matar, no lapso de 5 ou 6 meses, a população de duas aldeias. Vive ainda quem declara ter assassinado, sozinho, mais de mil índios”.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Se você treme de indignação perante uma
injustiça no mundo, então somos companheiros.
(Che Guevara)
O que mais preocupa não é nem o grito dos
violentos, dos corruptos, dos desonestos,
dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais
preocupa é o silêncio dos bons. (Martin Luther King)