sábado, 31 de janeiro de 2009


A ROSA DA PALESTINA

(clique sobre a foto para vê-la ampliada)

Um poema de Vinícius ordena, suplica que "Pensem nas crianças mudas telepáticas. Pensem nas meninas cegas inexatas. Pensem nas mulheres rotas alteradas. Pensem nas feridas como rosas cálidas...". É esse poema, A Rosa de Hiroxima, é essa talha em versos que ordena, que resiste e insiste em nossa memória, quando vemos a foto de Somaeah Hassan, de 6 anos, abatida na faixa de Gaza. Essa flor fuzilada, entre gazes, olhinhos semicerrados, é a própria Rosa da Palestina. Contenhamos a velocidade da mão, refreemos a velocidade da escrita, represemos o fluxo da leitura. Pedimos uma pausa no caleidoscópio, nas luzes fugazes, frívolas, vulgares do incessante ir e vir do noticiário de todos os dias. Somaeah Hassan está morta. Calma, buldogues, fechem suas bocas, canos quentes de balas, suspendam a digitação, noticiaristas, segurem por um instante a divulgação do mais quente e recente escândalo. Porque o escândalo já está feito: Somaeah Hassan está morta. Na foto, seus olhinhos se negam a compreender o horror das balas que a levantaram do chão de refugiados de Rafah. Negaram-se é maneira de dizer. São incapazes, nos seus 6 anos. Mais tempo houvesse, mais vida, outra vida tivesse, Somaeah compreenderia e se negaria a compreender o horror maior do seu povo cercado como cães raivosos. E a raiva, em cães, se abate. Mas a raiva, em gente feita cão, não se abate - apenas cresce, quando a crianças como Hassan abatem.
Era bom, assim pede a paz que nosso peito deseja, era bom um lugar-comum que nos ajudasse, que nos socorresse. Dizer, por exemplo, que assim é a guerra, cruel como todas as outras, que nela não existem santos e demônios, que a guerra nos transforma a todos em anjos das trevas. Dito isto, seria melhor dizer que o terror feito pelo Estado de Israel apenas é uma resposta ao terror sofrido antes por sua gente. Dito isto, podemos afinal dizer que o mal e o mau têm que ser destruídos, para que só então a paz volte. Mas, ao chegarmos a este passo, perguntamos: mas de que mal e maus vocês falam, caras-pálidas? Pois será que ninguém ainda notou que a nossa cara tem a cara e o sangue da gente palestina? Que eles, os palestinos, são a nossa própria cara? Será que ninguém ainda percebeu que o desespero dos povos palestinos é o nosso próprio desespero em outras terras e em outras circunstâncias? Aquele mesmo desespero que acomete a gente em situações-limite? Ainda que os Estados Unidos mandem fazer a volta ao mundo uma negra para consumo externo, ela apenas nos aparece como um novo Al Jolson, com a cara tisnada. Os interesses de que ela fala não são os nossos. Servem à mesma rosa atômica que se fez cair em Hiroxima e Nagazaqui.
Então voltemos, mais serenos. Mas, desgraça, descobrimos: serenos, não temos mais mãos. Temos somente uma grande letargia. Então quebremos o torpor, voltemos ao princípio.
"A rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica" sofreu uma tradução no campo de refugiados da faixa de Gaza. Ela se fez uma rosa fuzilada, a Rosa da Palestina, no corpinho frágil de Somaeah Hassan. Essa menina nos fere como uma filhinha morta. Ela, em árabe, em dialeto, em outra língua, nos fala e a compreendemos como compreendemos e amamos uma própria filha que o nosso sêmen esculpiu. Mais: como um serzinho esculpido por nós por um nosso irmão. Mais: irmão com um sentido de irmão mais fundo que o genético. Mais: com um sentido de irmão mais fundo que o racial. Mais: com um sentido de irmão mais fundo que o nacional. Mais, finalmente: com um sentido de irmão que é o próprio sentido de humanidade. Hassan é a nossa própria humanidade abatida. Ela se abre em outras rosas que se despedaçam em Jerusalém. Rosas que em vez de pétalas jogam carnes, fígado, coração e intestinos.
Já secamos as lágrimas. Não nos perguntem portanto por que vomitamos. Nós não queríamos ter essas Rosas da Palestina.
(Urariano Mota, escritor e jornalista)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Golfinhos brincando com circulos

de bolhas de ar no Sea Word - USA.

Simplesmente maravilhoso!

O AMIGO LEÃO

Primeiro vídeo postado no blog :)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um homem feliz é como um barco que
navega com vento favorável. (provérbio chinês)
(clique na foto para vê-la ampliada - é linda!)
CINEMA
Guerra, imigração e política na
mira no Oscar de estrangeiro
(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
Valsa com Bashir, um misto de documentário e animação,
trata da invasão israelense do Líbano em 1982
Três filmes com forte temática política estão entre os indicados ao Oscar na categoria língua estrangeira. O pacifista Valsa com Bashir concorre como o primeiro filme israelense com possibilidade de conseguir um Oscar. Os outros indicados ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira são Entre os Muros da Escola (França), The Baader Meinhof Complex (Alemanha), Departures (Okuribito) (Japão) e Revanche (Áustria).
(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
"Imagine um documentário daqueles bem pessoais sobre memórias de guerra. Um diretor tentando recuperar fragmentos perdidos de suas lembranças quando lutou no exército israelense durante a Guerra do Líbano nos anos 80, e que sai procurando seus velhos colegas de guerra para entrevistas cheias de remorso e catarse.
Agora, imagine tudo isso em forma de animação, com todas as cenas psicodélicas e delirantes a que se tem direito, a exemplo de um homem que navega no ventre de uma mulher gigante em pleno mar, como se pilotasse um golfinho. Eis Valsa com Bashir, do israelense Ari Folman", disse Thiago Stivaletti na cobertura do Festival de Cannes 2008 para o Portal UOL.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vênus pode ter abrigado
continentes e oceanos

O planeta Vênus, hoje infernalmente quente e seco, pode no passado ter sido muito mais parecido com a Terra, abrigando oceanos e continentes. Essa é a implicação de um novo projeto de pesquisa que alega ter localizado indícios de altiplanos graníticos no planeta durante a avaliação de dados obtidos quase duas décadas atrás.
Em 1990, a espaçonave Galileo, da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), detectou emissões de infravermelho noturnas emanadas da superfície de Vênus. Ao analisar esses dados, uma equipe internacional de especialistas comandada pelo cientista planetário George Hashimoto, da Universidade de Okayama, Japão, constatou que as regiões elevadas de Vênus emitiam menos radiação infravermelha que as regiões de terras baixas.
Uma interpretação possível para a presença de emissões de infravermelho menos intensas nas regiões elevadas, dizem os autores do estudo, é que elas sejam compostas em larga medida de rochas conhecidas como "félsicas", em especial o granito, que na Terra é encontrado na crosta rochosa dos continentes e que requer água para sua formação. Os resultados do estudo foram publicados em artigo para o Journal of Geophysical Research.
"Trata-se da primeira prova direta de que, nos primórdios da história do Sistema Solar, Vênus era um planeta habitável, com abundância de água", disse Dirk Schulze-Makuch, astrobiólogo na Universidade Estadual de Washington, em Pullman, que não participou do estudo.
"A questão é determinar por quanto tempo Vênus se manteve habitável. Mas isso oferece novo ímpeto à busca de vida microbiológica na atmosfera inferior de Vênus".
Vênus pode um dia ter contado com cobertura de água quase integral, ainda que, sem dados geotérmicos adicionais, não seja possível determinar se esse oceano tinha temperatura de 30 graus ou de 150 graus, disse o geofísico Norm Sleep, da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Quer morno, quer fervente, ele diz, qualquer oceano em Vênus teria durado apenas algumas centenas de milhões de anos. À medida que o Sol ganhava temperatura e brilho, o planeta passou por um efeito-estufa acelerado.
Hoje, Vênus é completamente inabitável, com atmosfera formada por 96% de dióxido de carbono e temperatura superficial de cerca de 460 graus. "Qualquer forma de vida em Vênus que não tenha descoberto como colonizar o alto das nuvens um bilhão de anos depois da formação do planeta estaria em sérias dificuldades", diz Sleep.

(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
Uma interpretação possível para a presença de emissões de infravermelho menos intensas é que elas sejam compostas de rochas conhecidas como "félsicas", em especial o granito

Vénus, o segundo planeta mais próximo do Sol e nosso vizinho planetário mais próximo, sempre fascinou a Humanidade desde os seus primórdios. Uma das questões que intriga os astrofísicos é a sua rotação retrógrada. Quase todos planetas do Sistema Solar têm uma rotação no mesmo sentido direto, isto é o sentido contrário ao ponteiro dos relógios tal como o Sol, mas Vênus, como Urano, efetua sua rotação própria no sentido contrário. A colisão de um corpo de grandes dimensões com o planeta no início da história do Sistema Solar pode explicar a alteração da sua rotação. Mas não há indícios atuais da ocorrência de tal colisão.

Comparação entre os planetas Terra e Vênus

Venus é o planeta mais próximo da Terra. Sua distância oscila entre 40,2 a mais de 260 milhões de quilômetros, diferença explicada pelo fato de ambos orbitarem o Sol a velocidades diferentes. A cada 19 meses ficam mais próximos, afastando-se depois para lado oposto ao Sol, assim fica invisível a nossos olhos, mas, quando visivel, podemos vê-lo em plena luz do Sol. Pouco antes do anoitecer, ele já é visível, é o ponto mais luminoso no céu, mesmo antes do anoitecer.
A primeira sonda espacial a estudar esse planeta foi a americana Mariner 2 em 1962. Em 1978, a também americana Pioneer revelou que Vênus esta envolvido totalmente de uma atmosfera ácida e tóxica onde existem 3% de nitrogênio e 97% de gás carbônico. Em 82, duas sondas soviéticas pousaram no planeta e constataram camadas de basalto de cobre na superficie.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Planetário do Rio abriu ontem
o Ano da Astronomia no Brasil
Como parte das atividades comemorativas da data proclamada
pela ONU, Cidade Maravilhosa receberá, em agosto, 3 mil
astrônomos de todo mundo em um grande congresso

A origem dos planetas, das estrelas e do universo sempre despertou curiosidade em todo o mundo. Na tentativa de conhecer o que estava além do céu, usando um telescópio, há 400 anos, Galileu Galilei mudou a forma de ver o mundo. Agora, pesquisadores querem divulgar a astronomia e chamar atenção para novas descobertas.
Com esse objetivo, o Planetário da Cidade do Rio abriu ontem o Ano Internacional da Astronomia no Brasil, proclamado pela ONU para comemorar toda a inspiração e conhecimento obtidos pela humanidade pela observação do céu. Em particular, comemoramos os 400 anos do primeiro uso do telescópio por Galileu Galilei, que desde 1609 tem revolucionado continuamente nossa concepção do Universo e das relações de nosso planeta com outros astros. Queremos usar o fascínio produzido pelas descobertas astronômicas para aproximar os cidadãos da ciência e da tecnologia e difundir uma mentalidade científica, requisito importante das sociedades tecnológicas.
Quando Galileu propôs suas teorias, há 400 anos, demonstrando que a órbita dos planetas não era circular e, sim, uma elipse, isso teve um impacto profundo, destacou Celso Cunha, presidente do observatório carioca. Podemos provocar novas mudanças por meio do fascínio produzido pelas descobertas astronômicas e sinalizar que existem coisas maiores, diferentes das do dia-a-dia.
Como parte das atividades do Ano da Astronomia, o Rio receberá, em agosto, 3 mil astrônomos de todo mundo em um congresso. Para o estudioso Luiz Nicolaci, do Observatório Nacional órgão do governo federal que faz pesquisas na área o momento é de estreitar parcerias com outros países e de fomentar a sistematização das pesquisas.
Acho que já foram descobertos cerca de 200 planetas em outros sistemas estelares. O problema é que ainda não foi feito um levantamento sistemático, que dê uma amostra estatística válida para tentar entender o processo de formação dos sistemas planetários. É isso que tentamos entender, afirmou.
De acordo com ele, o Brasil não têm recursos para investir em equipamentos como telescópios, que possam resultar em novas descobertas. No último levantamento, os pesquisadores brasileiros estimaram investimentos de R$ 15 bilhões. No entanto Nicolaci avalia que o país pode colaborar, trabalhando bancos de dados, por exemplo. “Obviamente, não podemos competir de igual para igual com os Estados Unidos e a Europa, mas podemos participar de outros projetos,” afirmou.
Quem não quiser perder as últimas descobertas sobre o universo, pode participar de atividades do Ano da Astronomia, em todo o país. Somente no período de abertura, que vai até o próximo dia 28, estão previstos cerca 200 eventos em várias cidades. Entre eles, a observação do céu com telescópios, atividades em planetários e mostras.


O mais moderno da América do Sul, o planetário do Rio é um planetário duplo. A cúpula menor, com um Spacemaster Zeiss, data de 1970 e, apesar de seu irmão maior ficar à sua direita, não há dúvida de que ele, o Spacemaster, ainda presta muitos serviços à comunidade, principalmente à escola..
O "irmão maior" fica em um novo edifício com uma grande cúpula Carl Zeiss sobre um auditório inclinado, com espaços de exibição e escritórios. A Carl Zeiss foi a principal fornecedora do equipamento técnico total. O equipamento de projeção é um Universarium Modelo VIII, instalado sobre a scissor lift. Atrás dele, completamente escondido debaixo de um postigo, há um projetor de filmes grande angular feito na Alemanha.
Organizados na periferia e em toda a volta estão os projetores para visão de múltiplas imagens, panorama, all-sky e projeção de vídeo. O equipamento fornecido pela Zeiss e combinado com a facilidade inclui também um sistema de transmissão de som e um estúdio de áudio. Por tudo isto, o planetário do Rio de Janeiro é um conceito exemplar de planetário.

Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro
Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100 - Gávea
Tel. (11) 2274-0046 - Rio de Janeiro, RJ
Site: www.rio.rj.gov.br/planetario

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Paz na Palestina depende
de mudança na postura dos
EUA, diz pesquisadora


O cessar-fogo na Faixa de Gaza permitiu uma noite aparentemente tranqüila de domingo (18) para sábado (19), mas de nada vai adiantar se não houver uma mudança de postura dos Estados Unidos e de Israel em relação s organizações palestinas, como o Hamas. Essa é a opinião da diretora adjunta do Programa de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade de Winsconsin, nos Estados Unidos, Jennifer Loewenstein.
“Não é possível evoluir da atual situação para algo parecido com uma paz justa até que os Estados Unidos e Israel reconheçam o Hamas, conversem com ele e deixem território que foi estrangulado até a Faixa de Gaza”, afirmou.
Para a pesquisadora, ainda que não existisse o Hamas, haveria da mesma forma a disputa pelo território na Palestina. A questão, lembra Loewenstein, é que Israel não aceita a existência de um Estado palestino na região. Se há um Estado judeu exclusivista, ele não tem nenhum real desejo de deixar o controle da terra, dos recursos naturais ou de dividir aquele território com outra população que não seja de judeus. Esse é um problema muito sério porque é racismo, é nacionalismo e é misturado com religião.
Ainda assim, ela acredita que existe solução por meio de três hipóteses: a existência de um Estado que abrigue os dois povos, a criação de dois Estados independentes ou até ou mesmo o surgimento de uma confederação. No entanto, uma mudança na situação do Oriente Médio depende, em grande medida, de uma mudança de postura dos EUA, ressaltou Loewenstein.
Segundo ela, os norte-americanos poderiam mandar uma mensagem clara para Israel: se não deixar os territórios ocupados no final da década de 1960, acaba o apoio militar e econômico. Há tantas coisas que os norte-amerianos poderiam fazer em questão de horas que fariam uma grande diferença na maneira como Israel age. E o fato de que eles não fazem isso traz mais hostilidade contra os EUA, ao menos na mesma medida em que se acusa Israel pelo atual conflito.
Na opinião da pesquisadora americana, não só os Estados Unidos poderiam agir de forma mais veemente. Outros países deveriam parar de se curvar ao poder dos EUA. Os árabes são os mais culpados nesse sentido, os chamados Estados árabes modernos. Egito e Arábia Saudita devem se juntar e parar de se curvar vontade dos EUA.
Para Jennifer, os países árabes traíram e abandonaram o povo palestino. Eu não me surpreenderia se, nos próximos anos, víssemos muita agitação nas ruas desses países, por causa da natureza patética dessa situação. A pesquisadora avalia que também os europeus e os países latino-americanos poderiam exigir uma mudança de atitude de Israel e dos Estados Unidos, que fornecem armas.
Eu não digo que isso faria toda a diferença, mas com certeza colocaria muita pressão sobre os Estados Unidos e mandaria uma mensagem clara para Washington e Tel Aviv de que esse status quo não é mais aceitável. E completou: quando essas forças pedem um cessar-fogo, elas não conseguem nada, não vai haver um cessar-fogo. Israel mostrou um desprezo absoluto pelas Nações Unidas nas últimas três semanas, eu tenho certeza de que os ataques a alvos da ONU foram deliberados. Por isso, ela defende que outras nações façam como a Bolívia e a Venezuela e rompam relações diplomáticas com Israel.
A população norte-americana, e não só o governo, poderia mudar sua posição em relação ao conflito no Oriente Médio. O norte-americano educado tem acesso `as mesmas informações a que as pessoas no Oriente Médio e no resto do mundo. A questão é por quanto tempo as elites vão continuar servis ao poder e ao controle deste país em Israel, questionou. Segundo ela, esse grupo pode desempenhar um papel muito importante e, de fato, fazer a diferença na política norte-americana. Eles vão parar de aceitar as mentiras com as quais são alimentados sem questionar?
Loewenstein afirmou ainda que as perspectivas não mudam mesmo com a posse de Barack Obama. De acordo com a pesquisadora, os assessores que o cercam e que vão compor o seu governo não mostram que vão ser diferentes do que as sucessivas administrações nas últimas cinco ou seis décadas. Isso não vai ajudar a melhorar a situação.

As perspectivas não mudam mesmo com a posse de Barack Obama. Os assessores que o cercam e que vão compor o seu governo não mostram que vão ser diferentes do que as sucessivas administrações nas últimas cinco ou seis décadas. Isso não vai ajudar a melhorar a situação, na opinião da diretora adjunta do Programa de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade de Winsconsin, nos Estados Unidos, Jennifer Loewenstein

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Herodes "voltou da Bíblia"
e mandou (novamente)
matar crianças em Gaza


“Não sou anti-semita e nem muçulmano. Pelo contrário. Admiro (ou admirava, nem sei mais...) os israelenses por sua história e suas lutas - como povo judeu - ao longo dos séculos. Conheço inúmeros camaradas judeus e tenho o respeito deles por minha admiração aos seus costumes. Mas matar crianças deliberadamente é inaceitável para quem se julga um cristão e um ser civilizado e é assim que me considero. Não estamos mais na época dos bárbaros que tomavam as cidades e passavam todos os seus habitantes - crianças inclusive - pelos fios das espadas. Minha revolta se associa à onda de indignação que varre o planeta, mas não sensibiliza o governo israelense.
Hoje eu tive a idéia de comparar o governo israelense ao famoso Rei Herodes que mandou assassinar as crianças em seu reino, de acordo com o texto bíblico. Espero que algum jornalista da grande imprensa possa aproveitar a idéia e criar esta imagem horrorosa contra os líderes israelitas. Não merecem menos”.
Li este texto hoje no blog oficinadegerencia.blogspot.com e resolvi transcrevê-lo aqui e faço minhas as palavras do autor.


O número de mortos do lado palestino é de 1.314,
dos quais 416 eram crianças e 106 mulheres.
Do lado israelense, quatro mortos e 84 feridos,
segundo a Organização das Nações Unidas.
Israel reconhece uso de
armas proibidas em Gaza

Confirmando a acusação do ministro de Assuntos Exteriores do Irã, Manouchehr Motakki, em carta à Organização Contra o Uso de Armas Químicas, divulgada na manhã de domingo pela televisão iraniana PressTV, que declarou que o mundo precisa saber que o Exército israelense utilizou materiais proibidos como o "fósforo branco" em seus bombardeios sobre Gaza.
Pela primeira vez desde o início da operação militar israelense em Gaza, e após as reiteradas queixas de organizações de direitos humanos, fontes militares reconheceram nesta segunda-feira a um jornal israelense que foi utilizada bombas de fósforo branco na região palestina.
A edição eletrônica do Maariv informa que o Ministério da Defesa informou que está realizando uma investigação conjunta com o Comando Sul do Exército e a Promotoria militar para estudar como foi utilizada essa munição durante a ofensiva na Faixa de Gaza.
Durante e depois desta intervenção, palestinos e organizações humanitárias denunciaram que Israel tinha usado bombas de fósforo branco em áreas povoadas da faixa palestina.
A organização Anistia Internacional a partir de sua sede em Londres revelou hoje em comunicado que tem em seu poder provas sólidas de que Israel utilizou estas bombas, cujo uso está proibido em zonas povoadas segundo os convenções internacionais.
O Exército israelense, acrescenta o jornal, abriu uma investigação, após a denúncia desta organização, e sustenta que empregou projéteis de artilharia com fósforo para criar cortinas de fumaça, e que seu conteúdo são telas impregnadas com essa substância.
As organizações de direitos humanos denunciaram que o fósforo disparado sobre Gaza se espalhou em muitos casos já no solo e não no ar, como sustentam as Forças Armadas.
O Ministério da Defesa de Israel reconheceu a utilização de munição de fósforo, argumentando que seu uso foi legal.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, John Holmes, contabilizou nesta segunda-feira em mais de 6,6 mil os mortos e feridos na Faixa de Gaza durante os 22 dias que durou a operação militar israelense contra o movimento radical islâmico
Holmes disse durante uma entrevista coletiva nas Nações Unidas que o número de mortos do lado palestino é de 1.314, dos quais 416 eram crianças e 106 mulheres, segundo dados que o Ministério de Saúde palestino proporcionou à organização multilateral.
Os feridos, disse, chegam a 5.320, entre os quais há 1.855 crianças e 725 mulheres, além disso, que outros 55 mil palestinos tiveram que se deslocar de suas casas por causa do conflito. Pelo lado israelense, houve quatro mortos e 84 feridos, disse a mesma fonte.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários informou que em três semanas será disponibilizado um relatório completo sobre a avaliação dos danos e as necessidades de reconstrução do território.

Bombas explodem no céu de Gaza,
perto da fronteira com Israel

Diversos tratados internacionais de guerra questionam a utilização do explosivo. A Convenção de Armas Químicas, de 1993, proíbe o uso desse tipo de aparato e define como substância química tóxica aquela que “por sua ação sobre os processos vitais, possa causar morte, incapacidade temporal ou lesões permanentes a seres humanos ou animais”. O Protocolo de Genebra, de 1925, condena “o emprego de gases asfixiantes, tóxicos ou similares”. A Cruz Vermelha Internacional já pediu o veto específico desse item.
Quando entra em contato com a pele humana, o fósforo branco pode se transformar em ácido e causar queimaduras, explicou o professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo Koiti Araki. A gravidade depende do tempo de exposição. Caso seja colocado em um ambiente fechado, pode acabar com o oxigênio do local. Além disso, o produto não pode ser apagado como fogo. Tem de ser raspado. Enquanto isso não acontece, vai consumindo a pele.
Histórico - Esse não seria o primeiro caso de utilização desse tipo de armamento por Israel. Em 2006, pela primeira vez, o país reconheceu o uso. “As forças de defesa israelenses usaram obuses com fósforo durante a guerra contra o Hizbollah, no Libano”, disse, na época, o ministro encarregado das relações entre o governo e o Legislativo, Yaacov Ederi.
Os Estados Unidos também já assumiram ter trabalhado com o produto. Em 2005, o Departamento de Defesa admitiu que usou munição incendiária de fósforo branco na ofensiva lançada no ano anterior contra Faluja, um reduto insurgente no Iraque. Mas negou que civis tivessem sido vítimas.

Estados Unidos e Israel admitiram ter usado o
fósforo branco em 2005 no Iraque e durante a
guerra contra o Hizbollah, em 2006 no Líbano

Cruz Vermelha diz que
número de mortos em
Gaza pode aumentar

O número de mortos na ofensiva militar israelense sobre Gaza pode aumentar em razão do número de corpos sob os escombros,
Graças à trégua unilateral declarada por Israel e pelo Hamas, equipes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e ambulâncias do Crescente Vermelho Palestino chegaram a regiões que estavam isoladas pelos combates, indicou a organização humanitária. Essa missão encontrou 100 corpos decompostos entre os escombros. "Infelizmente não houve sobreviventes, o que faz aumentar o temor de que o atual número de mortos possa subir ainda mais nos próximos dias", explicou o CICV.
Segundo a Cruz Vermelha, "os moradores de Gaza começaram eles mesmos a deixar os locais onde estavam refugiados para procurar por familiares nos lugares onde um dia ficavam seus lares". "Alguns estavam transportando corpos por qualquer meio que encontravam para poder enterrá-los imediatamente. Vimos os corpos de duas idosas que eram levados por membros de sua família sobre uma carreta. As duas tinham ferimentos na cabeça", relatou o porta-voz do CICV em Gaza, Iyad Nasr.
"É quase impossível descrever a dor e devastação que havia nesse lugar", acrescentou. A fonte explicou que algumas regiões parecem ter sido atingidas por "um forte terremoto, com bairros inteiros irreconhecíveis, casas completamente arrasadas e outras que continuam de pé, mas tão danificadas pelos bombardeios que seria perigoso demais voltar a habitá-las".
"É quase impossível descrever a dor e
devastação que havia nesse lugar", disse
o porta-voz da Cruz Vermelha em Gaza.
Trégua eleitoreira
A trégua declarada por Israel na Faixa de Gaza após três semanas de ataques tem "motivação eleitoral", afirmou ontem o secretário-geral adjunto da Liga Árabe para Assuntos Palestinos, Mohammed Subeih.
Em comunicado publicado durante o Fórum Econômico e Social Árabe, que antecedeu a Cúpula Econômica da Liga Árabe no Kuwait, Subeih classifica como uma "loucura estratégica" a decisão de Israel de invadir Gaza militarmente.
Além disso, destaca que o Estado judeu teve que declarar a trégua devido à proximidade das eleições gerais em Israel, que acontecerão em 10 de fevereiro.
"Com sua agressão contra o povo palestino em Gaza, Israel cometeu uma loucura estratégica que prejudica o próprio Estado judeu", afirma Subeih.
"Com esta agressão, Israel perdeu a amizade de vários povos", afirmou um dos líderes da Liga Árabe, em aparente alusão à decisão de inúmeros países árabes de romper relações com o Estado judeu por causa da operação militar em Gaza.

Caça israelense sobre a Faixa de Gaza

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

HOLOCAUSTO EM GAZA
Médico das Nações Unidas segura um corpo
queimado e destruído depois de um míssil israelense
atingir um furgão que transportava passageiros
(clique sobre a foto para vê-la ampliada)

Apesar dos apelos da ONU pelo cessar-fogo imediato, os ataques das tropas e bombardeios dos aviões israelenses continuam na Faixa de Gaza. "O número de mártires passa de 1.000 desde o início da ofensiva militar de Israel e o de feridos supera 4.580", disse à agência AFP o doutor Muawiya Hassanein, chefe dos serviços de emergência do território palestino.
Enquanto tropas israelenses avançam com tanques, combatentes palestinos resistem com bombas detonadas a distância, morteiros e disparos de fuzis. Os apelos do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon, a Israel e ao Hamas, que controla a região, para que interrompam o conflito imediatamente, continuam sendo ignorados pelos dois lados.
Entre os palestinos mortos, mais de 300 crianças. Dez soldados e três civis israelenses morreram desde o início da ofensiva. Israel está impedindo a entrada de jornalistas estrangeiros na região, o que torna impossível a confirmação independente do número de vítimas do conflito.
A Assembléia Geral da ONU anunciou que estudará a possibilidade de julgar Israel por violações das Convenções de Genebra e do direito internacional durante o atual conflito na Faixa de Gaza. Pode até estudar...mas não vai dar em nada para nenhum judeu de Tel Aviv, que continua com o aval e total apoio dos Estados Unidos para atitudes insanas como essa.
ONU apela por cessar-fogo, mas
ataques israelenses continuam

Centenas de crianças palestinas esão sendo covarde
ecruelmente assassinadas por Israel em Gaza


(clique sobre as fotos para vê-las ampliadas)


Área residencial completamente destruída
após bombardeio israelense em Gaza

O cadáver de um morte em meio ao entulho
provocado pelo ataque aéreo israelense

(clique sobre a foto para vê-la ampliada)


PESADELO EM GAZA

(Noam Chomsky, do The New York Times Syndicate)
No momento em que isto é escrito, à medida que prossegue o violento ataque de Israel a Gaza e o terror se aprofunda e se torna mais sangrento, as perspectivas de uma solução digna se dissipam entre os gritos dos feridos, dos moribundos e dos enlutados.
O ataque mais recente a Gaza começou com a violação de Israel de um cessar-fogo em 4 de novembro, enquanto eleitores americanos iam às urnas eleger Barack Obama, depois irrompeu em plena fúria no dia 27 de dezembro.
A resposta de Obama a esses crimes tem sido o silêncio - ao contrário, por exemplo, dos ataques terroristas em Mumbai, os quais ele foi rápido em denunciar, juntamente com a "odiosa ideologia" que está por trás. No caso de Gaza, os porta-vozes de Obama se esconderam por trás do mantra "há somente um presidente por vez" e repetiram o seu apoio a ações israelenses quando ele visitou a cidade israelense de Sderot em Julho: "Se alguém estava enviando foguetes para minha casa, onde minhas duas filhas dormem à noite, eu vou fazer tudo em meu poder para impedir".
Mas ele aparentemente não vai fazer nada, nem mesmo uma declaração, quando jatos e helicópteros americanos com pilotos israelenses estão causando um sofrimento incomparavelmente maior a crianças palestinas.
Uma voz de presidente deveria se fazer ouvir, pelo menos como uma resposta moral e uma chamada para cessar os crimes e auxiliar os esforços humanitários. Israel não pode agir de forma independente de seu principal aliado, partidário e capacitador. O derramamento de sangue em Gaza também está nas mãos dos Estados Unidos. Essa voz também poderá indicar se o apoio de linha dura de Washington às ações de Israel poderá amolecer depois de décadas.
Durante a campanha, houve boatos de que Obama poderia se afastar do rejeicionismo que há muito tem sido um obstáculo principal para um legítimo acordo de dois estados, um estado palestino independente co-existindo com Israel. Este é o antigo consenso internacional que os Estados Unidos e Israel vêm bloqueando praticamente em isolamento há mais de 30 anos, com afastamentos raros e temporários. De resto, o consenso é apoiado pelo mundo inteiro, incluindo a maioria da população americana. No entanto, o histórico de Obama não oferece base para que se levem os boatos a sério.
Como assistente especial no Oriente Médio, Obama escolheu Daniel C. Kurtzer, o embaixador das administrações Clinton e Bush no Egito e em Israel. Kurtzer participou na redação do discurso de Obama na organização israelense de lobby AIPAC em Washington em Junho. O notável texto foi muito além do Presidente Bush em seu servilismo, chegando a declarar que "Jerusalém permanecerá a capital de Israel e não deve ser dividida" - uma posição tão extrema que sua campanha teve que explicar que suas palavras não queriam dizer o que ele afirmou. E Kurtzer é uma das opções mais moderadas de Obama na região.
O presidente israelense Shimon Peres informou à imprensa que, em sua visita a Israel em julho, Obama havia dito estar "muito impressionado" com a Proposta da Liga Árabe, que pede a total normalização das relações com Israel. Isso vai mesmo além de um consenso sobre um acordo de dois estados. (O próprio Peres nunca aceitou o consenso. Com efeito, em seus últimos dias como primeiro ministro em 1996, ele defendeu que nunca deveria existir um estado palestino).
Os comentários de Obama podem sugerir uma significativa mudança de posição, exceto pelo fato de que, na mesma viagem, conforme relatado pelo líder israelense de direita Benjamin Netanyahu, Obama lhe havia dito que estava "muito impressionado" com o plano de Netanyahu, o qual preconiza um controle de Israel sobre os territórios ocupados por tempo indeterminado.
O paradoxo é resolvido de forma plausível pelo analista político israelense Aluf Benn, que observa que "o principal objetivo" de Obama "não era atrapalhar ou enraivecer ninguém. Presumivelmente ele foi educado e falou a seus anfitriões que suas propostas eram 'muito interessantes' - então eles saem satisfeitos e ele não prometeu nada." É compreensível, mas não nos deixa nada exceto as fervorosas declarações de amor de Obama por Israel e desconsideração dos interesses palestinos.
Obama há muito apoia o "Direito de Autodefesa" de Israel e seu "direito de proteger seus cidadãos." Em 2006, quando Israel invadiu o Líbano com apoio dos Estados Unidos, Obama foi o co-patrocinador de "uma resolução do senado contra o envolvimento do Irã e da Síria na guerra, e insistindo que Israel não deveria ser pressionada para aceitar um cessar-fogo que não lidava com a ameaça dos mísseis de Hezbollah", de acordo com o seu site de campanha. A invasão do Líbano, a quinta de Israel, matou mais de mil libaneses e mais uma vez destruiu boa parte do sul do Líbano e partes de Beirute.
Essa vem a ser a única menção do Líbano entre questões de política externa no site de Obama. Evidentemente, o Líbano não tem direito de autodefesa. Na verdade, quem poderia ter direito de autodefesa contra os Estados Unidos ou seus clientes?
A invasão de Gaza é o mais recente episódio trágico que se segue a uma eleição palestina democrática e pacífica em janeiro de 2006, cuidadosamente monitorada e declarada livre e justa por observadores internacionais. Mas os palestinos votaram em Hamas, apesar de esforços americanos e israelenses em favor do Presidente Mahmoud Abbas, autoridade palestina e seu partido Fatah. Aqueles que desobedecem ao mestre devem sofrer por esse delito.
A punição dos palestinos por votar de forma errada começou imediatamente e está se tornando cada vez mais severa. Com apoio americano, Israel adentrou com sua violência em Gaza, sequestrou boa parte das lideranças eleitas, apertou o cerco com firmeza e até mesmo cortou o fluxo de água para a Faixa de gaza. Os Estados Unidos e Israel asseguraram-se de que o governo eleito não teria chance de funcionar.
Mesmo quando Israel aceitou um cessar-fogo, como fez em junho de 2008, instantaneamente o violou, mantendo o seu cerco (um ato de guerra) e impedindo a UNRWA, uma agência da ONU que mantém palestinos vivos, de repor seus estoques. "Quando o cessar-fogo foi quebrado (no dia 4 de novembro), ficamos sem comida para os 750 mil que dependem de nós" informou à BBC o diretor da UNRWA em Gaza, John Ging.
Nas semanas seguintes, o bloqueio foi aumentado ainda mais, com consequências desastrosas para a população. A violência cresceu dos dois lados (todas as mortes foram palestinas), até que o cessar-fogo se encerrou formalmente no dia 19 de dezembro e o Primeiro Ministro Ehud Olmert autorizou a invasão total.
Hoje em Gaza, primeiro a matança tem que cessar. A pressão internacional provavelmente levará a um cessar-fogo. Obama poderão então tomar posse, antes que Gaza e seu povo sejam destruídos.
Em meio a mais um pesadelo em Gaza, a esperança de um acordo de dois estados em Israel-Palestina, de acordo com o consenso internacional, parece quase inimaginável. No entanto ele já chegou perto uma vez antes, durante o último mês de presidência de Bill Clinton. Em janeiro 2001 - não há tanto tempo assim - os Estados Unidos deram seu apoio às negociações em Taba, Egito, que quase chegaram a um acordo antes de terem sido canceladas pelo Primeiro Ministro israelense Ehud Barak. Um elemento crucial era a disposição do presidente americano de considerar essa possibilidade.

(Noam Chomsky é professor emérito de lingüística e filosofia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts).

GAZA

Se estivesse em Gaza, por certo eu estaria entre dois fogos: os morteiros de Israel e a compulsão de escrever. Antes que tivesse as mãos decepadas pelos estilhaços de uma bomba, escreveria um conto descrevendo a trajetória de um míssil. No segundo entre o disparo e a explosão, veria nos olhos de uma criança o assombro, a inquirição sem respostas sobre sua rotina, súbito sob os escombros; se os escombros não a tivessem engolido. Constataria, mais perplexo que medroso, o quanto veloz fora o pensamento de homens e mulheres, mais veloz que o míssil, buscando se lembrar do derradeiro minuto de sossego no prosaico lar.
Os sentidos dos meninos, dos homens, me julgariam tão insano quanto Shimon Peres; um escrevendo sobre estômagos destripados, outro dizendo que a paz é um item do mercado da guerra. Um com o transe da guerra nos olhos vítreos, no lápis gemendo sobre o papel; outro, como seu congênere Hitler, perguntando se Gaza ainda não foi varrida do mapa. A faixa, para Shimon Peres, é um cisco no olho tão incômodo quanto os quase um milhão e meio de refugiados que lá moram; não por opção, por certo, mas como gado tangido. São bárbaros, dirá Peres, lembrando-se dos otomanos; mais ainda porque fabricam mísseis em fundos de quintal, sem o certificado de ISO9000 que a Auduban, Magal e Golan têm; não têm o status, os novos otomanos, de monstros da guerra. Destruam Gaza! Ordena Barak; não o negro de Illinois, mas o chefe do terror, ministro da morte em Israel.
Uma criança me perguntaria, talvez num hebraico nervoso, se o que escrevo dará vida a sua mãe coberta, enterrada num cobertor fiado para ocultar-se das luzes dos tanques genocidas. Não saberia o que dizer, inda que escreva que seus olhos não têm a indiferença dos soldados da morte; têm a inocência dos sentidos, o crime de se moverem. Um míssil assoviaria sobre nossas cabeças, agarro-a, deito-a com brusquidão, a mesma dos tanques em marcha. Olharia para mim, o menino, querendo juntar seu destino ao meu, como se o meu, de adulto, não fosse presa de medos infantis. O míssil explode acolá, a cinqüenta metros de nós. Ele não quer olhar. Meu gesto já lhe diz que a morte fizera-se viva; que se a olhasse, como eu subjugando o medo, sofreria minha censura. Mas quero absorver, nos olhos do menino, a ausência de ódio. Em vez disso, desejo um cancro nas vísceras de Shimon Peres, feito o tumor que pôs fim a Nixon, que também tinha a alma gangrenada.
Outro morteiro explode, corro para me esconder atrás de um pé de azeitona. Seria um alvo fácil, visto que poucas são as árvores nas terras incultas de Gaza. A árvore não dá frutos, renunciara à vida. Não é mais o menino que se intriga com o escritor, é um adulto de roupas frouxas no corpo magro. Quer saber o que escrevo, mas não entendo sua língua. Abraço-o para pedir desculpas por não saber sua língua. Ele não chora mudo, está convulso de medo. Não tenho explicações para dar-lhe. Mostro minhas anotações. Ele se surpreende, tem inveja de mim porque ainda consigo escrever sob a poeira, entre os escombros.
Não tenho as anotações para dar conta do infanticídio em Gaza; tenho a reação impotente ao noticiário do Fantástico, mostrando a guerra como a defesa de Israel contra terroristas suicidas. Os milicianos do Hamas são, por si, maus; cobrem o rosto com máscaras escuras, portam metralhadoras, indícios de propósitos maus, conforme a lente do Fantástico. Não importa se ajudam na alfabetização, na rede de assistência social da faixa; importa amputar o contato que têm com o povo palestino. Mesmo antes de um intervalo, ante a iminente revelação, nunca a tediosa revista da Globo traduziu a sigla para Movimento de Resistência Islâmica; não o fará, não antes de a União Européia, o Canadá, Japão e Estados Unidos retirarem as brigadas do índex; por último, de o sôfrego Estado de Israel renunciar a seus desígnios de anexação.
Os brigadistas cobrem o rosto com uma máscara negra, o que lhes dá uma aura de mistério. O palestino comum, nas fotos e vídeos do noticiário, não os olha como estranhos mascarados; reproduz, ecoa os gritos muçulmanos de afirmação religiosa, de morte aos incréus envoltos na bandeira com a estrela de David.
Em Gaza, numa esquina deserta, há um conto a ser escrito; sob os escombros há um romance. A cidade sobrevive sob o terror, escreve uma epopéia. Perscrutar o silêncio é esperar a morte. Gaza não é Varsóvia, é um gueto cercado por aviões e veículos de terra das tropas neonazistas de Barak. Crianças correm das bombas, catam comida, algumas riem ante o fato de ainda estarem vivas. Se chegarem à idade adulta, por certo entre os um milhão e meio de moradores, haverá alguém com dotes literários. Terá poucos leitores de sua geração, posto que todos viram, viveram a resistência. A literatura será escrita sem a comoção da absorção do sangue em primeira experiência, com letras do fígado apático à dor.
Se eu estivesse em Gaza, escreveria um conto mirando-me nos meninos...
(Marco Albertim, jornalista e escritor)
GUERRA: O QUE ESTÁ
ACONTECENDO COM O MUNDO?

Não há sentimentos mais sublimes que o amor e o respeito. Eles são a base para uma relação saudável, harmoniosa e de paz entre os seres, a natureza e o universo. Essa harmonia e tranquilidade, historicamente, vêm sendo quebrada. Mais uma vez, a humanidade entra para história com um episódio lamentável, a guerra entre israelenses e palestinos. O resultado são dezenas de pessoas mortas, separadas por um propósito, doentes. Mas, infelizmente estes resultados não são exclusivos das regiões onde há batalhas declaradas.
Segundo um estudo das Nações Unidas realizado em setembro, a cada ano, mais de 800 mil pessoas morrem no mundo em conseqüência da violência. E destas, mais de 500 mil perdem a vida devido à criminalidade em lugares onde não há guerra. A morte é um dos efeitos, o mais terrível, da cólera que se abate nos seres.
De acordo com a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho, transtornos mentais e síndromes podem ser ocasionados devido aos atos violentos – físico, emocional e verbal, pelos quais a pessoa passa. Essas conseqüências podem afetar não só o indivíduo que diretamente sofre a agressão, mas quem presencia também.
Com a evolução dos meios de comunicação, facilmente milhares de pessoas são abaladas e ficam aterrorizadas com os atos violentos que acontecem nos quatro cantos do mundo. Exemplo disso é a guerra na Faixa de Gaza, que causa comoção mundial, ou exemplos mais próximos, como os casos Isabella Nardoni e Eloá Pimentel, que mobilizaram toda a população brasileira acompanhando seu desfecho.
Consequência da violência - Quem é vítima direta de atos violentos sofre física e psicologicamente. Emoções como raiva, medo, descrença em relação às pessoas, indignação, sede por vingança etc, se não acompanhados por especialistas podem se transformar em transtornos graves.
Indiretamente, atos de crueldade causam vítimas também. O excesso de informação violenta é responsável por gerar medo e neuroses. "As pessoas têm acesso à informação sem experimentar a situação, pois existe diferença entre a percepção real, de como a realidade é interpretada, e a violência real, que é experimentada. Em pessoas com predisposição, isso pode desencadear até a síndrome do pânico", explica Soraya.
Segundo a médica, as pessoas ao se depararem com tanta violência, além de tentar uma solução para o fim da mesma, também se colocam no lugar da vítima. O medo de que tal pensamento se torne realidade faz com que o ser humano se previna. “A violência deixa as pessoas mais neuróticas. Existe uma inteligência contra a violência, mas o organismo fica ansioso quando não consegue descobrir uma solução, o que faz com que as pessoas temam atitudes preventivas”, afirma a psicanalista.
O excesso de prevenção, regido pelo medo exagerado, sem limites e infundado, pode desencadear transtornos mentais. “Os distúrbios vão da neurose e paranóia a síndrome do pânico. Como consequência, causa até problemas físicos, como: úlcera, taquicardia, hipertensão, tensão muscular, baixa imunidade e aumento de quadros infecciosos” explica a médica.
Violência gera violência - Segundo Soraya, o ato violento gera um novo ato violento e isso se repete numa reação em cadeia. A luta entre palestinos e israelenses é histórica por que o ódio entre os povos foi transmitido de geração em geração.
Na violência urbana e doméstica isso também ocorre. “Um exemplo claro disso são os casos de abuso sexual do qual as crianças são vítimas. Caso essa criança não tenha um acompanhamento psicológico, pode crescer e se transformar em um pedófilo, reproduzindo o transtorno sexual”, completa a psicanalista.

(clique sobre as fotos para vê-las ampliadas)

domingo, 11 de janeiro de 2009

Faço parte do mundo e, no entanto,
ele me deixa perplexo. (Charles Chaplin)

(clique sobre a foto para vê-la ampliada)

O ÚLTIMO DISCURSO
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio ... negros ... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem ... um apelo à fraternidade universal ... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.
Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

(Charles Chaplin - no filme O Grande Ditador)
Charles Chaplin e Paulette Godard, na cena final de Tempos Modernos

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

PROBLEMAS DO MUNDO

Juarez José Viaro (*)


“Os problemas do mundo são simples. Os mais ricos não querem ganhar menos e ajudar os mais pobres. Os mais pobres se desesperam pela falta de comida, educação, saúde e, sem o apoio do governo que não cumpre suas funções sociais, econômicas e assistenciais, procuram outras formas de ajuda, nos chefes de gangues da região, que agem ilegalmente, ou nos cultos religiosos radicais.
Os chefes das gangues a princípio oferecem a proteção desejada e o auxílio financeiro, mas cobram caro depois e punem os devedores com as próprias vidas desses.
Os cultos religiosos prometem ajuda espiritual mas cobram por isso altas taxas financeiras e procuram prender seus devotos pela dependência emocional.
Outra forma de solução dos problemas da pobreza seria a solução político-institucional. Cobrar de seus representantes políticos que cumpram suas promessas de campanha. Mas a Política é feita por grupos, para defender seus interesses e a população nunca está organizada em grupos com os mesmos interesses.
Quando a desesperança nos políticos aumenta, o povo busca solução não-institucional, através de levantes populares que, quando vitoriosos, podem levar a soluções temporárias para seus problemas, mudando os grupos do Poder. Mas sempre custam caro em termos de mortes, fome e destruição.
Outra solução política seria a conscientização da população através da educação. Mas a educação está nas mãos dos políticos que nem sempre têm interesse nessa conscientização.
Resta acreditar que, com mudanças políticas legais, se consiga trocar os grupos do Poder e inverter a situação de poder e submissão por um tempo.
Os problemas do mundo se resumem a isso, com variáveis em cada região, devido a culturas, crenças, visões diferentes.”

NOTA: Texto encontrado em documentos da época colonial, no Rio de Janeiro. Acredita-se que tenha sido trazido pela Família Real, e que tenha sido traduzido do latim, de um texto encontrado numa placa de mármore, da época do Império Romano. Esse texto pode ter sido traduzido pelos romanos de um outro, escrito por assírios, com escrita cuneiforme, na região dos rios Tigre e Eufrates, na antiga Mesopotâmia, hoje Iraque. Outros estudiosos acreditam que se trata de um texto em hebreu, da região do Oriente Médio, atuais estados de Israel e Líbano. Mas o que os estudiosos ficam mais intrigados e se perguntam é por que, raios, os portugueses trouxeram esse texto para o Brasil?

(*) Juarez José Viaro é formado em Letras e Jornalismo. Publicou o livro de poemas “Aroma de Amora” e participou de movimentos literários em Osasco e São Paulo. Tem um romance inédito, “Viagem ao Interior”.
Imagem mostra lua gigante
passando por trás de Júpiter
Uma curiosa imagem de Ganimedes, maior das luas de Júpiter, captada pelo satélite espacial Hubble, foi divulgada pela Nasa, agência espacial americana. A lua foi fotografada minutos antes de desaparecer por trás do maior planeta do Sistema Solar para depois reaparecer do outro lado.
Segundo o site científico, Ganimedes completa uma órbita em torno de Júpiter a cada sete dias e como sua translação está alinhada com a Terra, o movimento de desaparecer e reaparecer por trás do planeta pôde ser observado. Para os pesquisadores, a lua se parece com uma bola de neve suja ao lado de Júpiter. Devido ao enorme tamanho do planeta, apenas parte do seu hemisfério sul foi visto na imagem.
Composta por rochas e gelo, Ganimedes também é a maior lua do Sistema Solar, e supera em tamanho o planeta Mercúrio. A nitidez da foto permitiu que os cientistas observassem até mesmo a mancha branca que identifica a cratera de Tros, na lua, e uma grande mancha vermelha, semelhante a um olho, na atmosfera de Júpiter - uma tempestade que se mantém há cerca de 300 anos.
Com esse tipo de imagem, os astrônomos conseguem estudar a atmosfera superior do planeta gigante. A movimentação da lua por trás de Júpiter faz com que ela reflita a luz do Sol. Logo, essa luz passa pela atmosfera, acumulando as informações necessárias aos cientistas.

A lua (canto direito) foi fotografada minutos
antes de desaparecer por trás de Júpiter
para depois reaparecer do outro lado

Vida extraterrestre pode ser
estranha, dizem especialistas

A vida extraterrestre pode ser tão estranha a ponto de não ser imediatamente reconhecível, e os cientistas que buscam alienígenas devem procurar formas familiares e também inesperadas, segundo especialistas.
Eles acham que a atual abordagem da Nasa, de "seguir a água", funciona bem sob a premissa de que em todo lugar a vida é como na Terra - baseada em água, carbono e DNA. Mas a procura pela "vida tal qual a conhecemos" pode acabar ignorando algo exótico, disse ontem uma comissão da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
"O objetivo do relatório era poder procurar vida em outros planetas e luas com uma mente aberta, e talvez não perder alguma outra forma de vida porque estamos procurando uma forma óbvia", disse John Baross, professor de Oceanografia da Universidade de Washington, em Seattle, que presidiu a comissão, que incluía bioquímicos, cientistas planetários, geneticistas e outros especialistas, que consideraram todas as formas de vida existentes.
Recentes descobertas de extremófilos - organismos que vivem em condições antes consideradas incompatíveis de calor, frio, escuridão ou contato com substâncias químicas - mudaram as idéias sobre como a vida pode sobreviver.
Como bioquímico, Baross disse que experiências em laboratório mostram que a água não necessariamente precisa ser a base da vida - seria possível um organismo usar metano, etano, amônia ou até substâncias mais bizarras. "Há muitas teorias sobre o que é vida e o que pode ser um sistema vivo", afirmou à agência Reuters.
Atualmente, a principal pista na busca por vida no espaço vem de telescópios que buscam uma assinatura espectral de planetas que possa sugerir a existência de água na superfície. Em Marte, robôs buscam sinais de que há ou houve água. "Queríamos na verdade pensar um pouco fora daquela caixa e pelo menos tentar articular algumas das outras possibilidades além da vida água-carbono", disse Baross.
Toda forma de vida terrestre usa algum DNA ou RNA para codificar a informação básica para sua replicação e mudança, mas talvez existam outras formas que usem um método diferente, diz o relatório.
A comissão também recomendou que a Nasa volte a olhar para alguns lugares promissores no nosso próprio sistema solar, como Titã e Encelado, que são luas de Saturno, ou mesmo para o caloroso vizinho Vênus.
"Se você é um bioquímico, Titã é de enorme interesse, porque é uma lua de carbono. Claramente tem alguns lagos ou piscinas de metano ou etano líquidos. Poderia haver reações ocorrendo que seriam favoráveis para a produção de bioquímicos complexos", disse Baross.
"A exploração que poderia levar a uma nova forma de vida seria a mais profunda descoberta já feita", acrescentou ele, para quem uma tragédia de proporções equivalentes seria tropeçar nessa forma de vida e ignorá-la ou, ainda pior, destruí-la por considerar que não parece vida.