segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vênus pode ter abrigado
continentes e oceanos

O planeta Vênus, hoje infernalmente quente e seco, pode no passado ter sido muito mais parecido com a Terra, abrigando oceanos e continentes. Essa é a implicação de um novo projeto de pesquisa que alega ter localizado indícios de altiplanos graníticos no planeta durante a avaliação de dados obtidos quase duas décadas atrás.
Em 1990, a espaçonave Galileo, da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), detectou emissões de infravermelho noturnas emanadas da superfície de Vênus. Ao analisar esses dados, uma equipe internacional de especialistas comandada pelo cientista planetário George Hashimoto, da Universidade de Okayama, Japão, constatou que as regiões elevadas de Vênus emitiam menos radiação infravermelha que as regiões de terras baixas.
Uma interpretação possível para a presença de emissões de infravermelho menos intensas nas regiões elevadas, dizem os autores do estudo, é que elas sejam compostas em larga medida de rochas conhecidas como "félsicas", em especial o granito, que na Terra é encontrado na crosta rochosa dos continentes e que requer água para sua formação. Os resultados do estudo foram publicados em artigo para o Journal of Geophysical Research.
"Trata-se da primeira prova direta de que, nos primórdios da história do Sistema Solar, Vênus era um planeta habitável, com abundância de água", disse Dirk Schulze-Makuch, astrobiólogo na Universidade Estadual de Washington, em Pullman, que não participou do estudo.
"A questão é determinar por quanto tempo Vênus se manteve habitável. Mas isso oferece novo ímpeto à busca de vida microbiológica na atmosfera inferior de Vênus".
Vênus pode um dia ter contado com cobertura de água quase integral, ainda que, sem dados geotérmicos adicionais, não seja possível determinar se esse oceano tinha temperatura de 30 graus ou de 150 graus, disse o geofísico Norm Sleep, da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Quer morno, quer fervente, ele diz, qualquer oceano em Vênus teria durado apenas algumas centenas de milhões de anos. À medida que o Sol ganhava temperatura e brilho, o planeta passou por um efeito-estufa acelerado.
Hoje, Vênus é completamente inabitável, com atmosfera formada por 96% de dióxido de carbono e temperatura superficial de cerca de 460 graus. "Qualquer forma de vida em Vênus que não tenha descoberto como colonizar o alto das nuvens um bilhão de anos depois da formação do planeta estaria em sérias dificuldades", diz Sleep.

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Uma interpretação possível para a presença de emissões de infravermelho menos intensas é que elas sejam compostas de rochas conhecidas como "félsicas", em especial o granito

Vénus, o segundo planeta mais próximo do Sol e nosso vizinho planetário mais próximo, sempre fascinou a Humanidade desde os seus primórdios. Uma das questões que intriga os astrofísicos é a sua rotação retrógrada. Quase todos planetas do Sistema Solar têm uma rotação no mesmo sentido direto, isto é o sentido contrário ao ponteiro dos relógios tal como o Sol, mas Vênus, como Urano, efetua sua rotação própria no sentido contrário. A colisão de um corpo de grandes dimensões com o planeta no início da história do Sistema Solar pode explicar a alteração da sua rotação. Mas não há indícios atuais da ocorrência de tal colisão.

Comparação entre os planetas Terra e Vênus

Venus é o planeta mais próximo da Terra. Sua distância oscila entre 40,2 a mais de 260 milhões de quilômetros, diferença explicada pelo fato de ambos orbitarem o Sol a velocidades diferentes. A cada 19 meses ficam mais próximos, afastando-se depois para lado oposto ao Sol, assim fica invisível a nossos olhos, mas, quando visivel, podemos vê-lo em plena luz do Sol. Pouco antes do anoitecer, ele já é visível, é o ponto mais luminoso no céu, mesmo antes do anoitecer.
A primeira sonda espacial a estudar esse planeta foi a americana Mariner 2 em 1962. Em 1978, a também americana Pioneer revelou que Vênus esta envolvido totalmente de uma atmosfera ácida e tóxica onde existem 3% de nitrogênio e 97% de gás carbônico. Em 82, duas sondas soviéticas pousaram no planeta e constataram camadas de basalto de cobre na superficie.

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