terça-feira, 30 de setembro de 2008
Contando os dias pro término dessa bandalheira e festival de baixaria e falta de ética que chamam de campanha eleitoral, incluindo o famigerado horário eleitoral gratuito na tv, resolvi selecionar algumas frases sobre política para publicar no Caderno 2 até domingo, dia das eleições municipais:
A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano. (Voltaire)
A política é um charco. As pessoas de bem têm de andar com um lenço no nariz.
(Jéferson Peres)
A política é uma delicada teia de aranha em que lutam inúmeras moscas mutiladas. (Alfred de Musset)
Eu acredito em tudo o que os políticos dizem, principalmente o que eles dizem uns dos outros. (autor desconhecido)
Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta. (John Kenneth Galbraith)
Os políticos brasileiros são os mais religiosos do mundo: Não assinam nada sem levar um terço. (autor desconhecido)
A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem. (Paul Valéry)
A ação política é cruel; baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo. (Otto Lara Resende)
Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive para a política ou se vive da política. Nessa oposição não há nada de exclusivo. Muito ao contrário, em geral se fazem uma e outra coisa ao mesmo tempo, tanto idealmente quanto na prática. (Max Weber)
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
John Neschling regente, Sarah Chang violino.
Variações sobre um Tema de Haydn, Op.56a
Concerto para Violino em Ré maior, Op.77
Sinfonia nº 2 em Ré maior, Op.73
Mais informações: www.osesp.art.br
O site http://sarahchang.com/ disponibiliza o download de um vídeo com Sarah Chang tocando Vivaldi Four Seasons. Pra comprar seus CDs pela internet a dica é o site www.cdpoint.com.br
completa hoje 100 anos
Sua vasta obra inclui ainda a crítica literária. Machado de Assis foi também um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, chamada de Casa de Machado.
De saúde frágil, epilético, gago, Joaquim Maria Machado de Assis ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Ele não chegou a freqüentar a escola, mas, em 1851, com a morte do pai, tornou-se vendedor de doces. No colégio teve contato com professores e alunos.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do País, ainda muito jovem.
Em 1855, aos 15 anos, Machado de Assis estreou na literatura, com a publicação do poema Ela na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista.
Aos poucos, Machado de Assis passou a dedicar mais seu tempo à carreira literária e escreveu uma série de livros de caráter romântico. Entre as obras que marcar a primeira fase da sua carreira estão: Ressurreição (1872), Helena (1876), além das coletâneas Contos Fluminenses (1870)
Em 1881, o escritor abandonou, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publicou Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo no Brasil.
Tanto Memórias Póstumas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola.
No momento áureo de sua carreira literária, Assis escreveu além de Memórias Póstumas de Brás Cubas, outras obras memoráveis como Quincas Borba (1892) e Dom Casmurro (1900).
Após a morte da mulher, Carolina Xavier de Novaes, em 1904, o autor entrou em um momento de tristeza em sua vida. Muito doente, solitário e triste depois da morte dela, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho.
Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.
Por que sinto falta de você? Por que esta saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.
(Machado de Assis)
O quero-quero fica em áreas abertas, por isso é comum encontrá-lo em aeroportos, campos de futebol e pistas de corrida. O que acontece é que, de acordo com o período do ano, eles se juntam para o acasalamento e fazem do local seu próprio habitat.. Fazem ninhos, criam filhotes e começam a defender este espaço. Eles não precisam de muita coisa para fazer um ninho - explica o biólogo Fernando Camargo, da Universidade Federal do Paraná.
Como bons pontas, costumam ficar nas extremidades dos gramados, lugares que onde deveriam ter maior tranqüilidade. “Acredito que próximo as bandeirinhas de escanteio e dos gols sejam os lugares preferidos porque têm um pouco mais de privacidade, até mesmo durante as partidas,” diz o biólogo.
Para o também biólogo Leonardo Mohr, do Instituo Chico Mendes, do Ibama, o crescimento das grandes cidades é o fator responsável pela invasão nos estádios. “Quanto mais as cidades crescem, menor é o espaço para as espécies em geral. As aves acabam procurando espaços disponíveis, que muitas vezes têm relação direta com a espécie humana. O quero-quero é um bicho característico de campo aberto e busca ambientes sossegados, como são os estádios de futebol em dias que não tem partida.
Se há registro de “ataques” de jogadores, que atingiram os quero-queros com boladas, não se espante se os bichos derem o troco. Para isso basta que coloquem em risco a integridade física de seus filhotes
O quero-quero é uma ave territorialista e defende de maneira aguerrida seu espaço. Em período de reprodução, o risco de ataque é grande. Eles acham que os humanos são predadores (coitado do meu amigo Édio...rs) e que podem fazer mal à suas crias. Como defesa, eles fazem vôos rasantes para assustar. Mas podem reparar que é comum também se fazerem de coitado, simulam lesões, para que virem o alvo, e não os filhotes - que o diga o meia Da Silva, do Marília, alvo da ira da ave em partida do Marília, no mesmo estádio Bento de Abreu, contra o Noroeste, de Bauru, em 2007, pela Copa Federação Paulista de Futebol. Rendeu até matéria pro Fantástico (hehehe).
O Ed Dourado registrou o "ataque" passo a passo:
Cuidado, palmeirense...
esse quero-quero deve
ser corintiano...hehehe
Socorro!!
domingo, 28 de setembro de 2008
sábado, 27 de setembro de 2008
Os animais foram imperfeitos,
compridos de rabo, tristes de cabeça.
Pouco a pouco se foram compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato, só o gato apareceu
completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele,
não tem a lua nem a flor tal contextura:
é uma coisa só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno firme e sutil
é como a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos deixaram
uma só ranhura para jogar as moedas da noite .
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão,
nupcial sultão do céu das telhas eróticas,
o vento do amor na intempérie
reclamas quando passas
e pousas quatro pés delicados no solo,
cheirando, desconfiando de todo o terrestre,
porque tudo é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente da casa,
arrogante vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta dos quartos,
insígnia de um desaparecido veludo,
certamente não há enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti
e pertences ao habitante menos misterioso.
Talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios de gato,
companheiros, colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.
escala em Isla Negra (rs)
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
(Pablo Neruda)
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Grandes são os desertos
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com
(Trecho do belo poema
Pra matar a saudade de um amigo tuareg, embarquei numa curta mas deslumbrante viagem agora a pouco pelo site http://www.flickr.com/ e escolhi cinco belíssimas imagens do Deserto do Atacama, no Chile. (Sei que os tuaregs vivem no Deserto do Saara, mas esse meu amigo tem uma tenda de campo no Atacama...rs)
(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
Deserto do Atacama - Vale da Lua (Galeria de +simples no flickr)
"Seguimos para Salar de Atacama, com mais de 320.000 m², observamos a crosta de cristais de sal. Abaixo destas placas há água, que no verão de evaporam e rompem estas crostas formando estas estruturas pontiagudas. As industrias que fazem a separação dos minerais e do sal, captam a pouca água que ali existe, causando um enorme impacto ambiental. Distante dos humanos, o Salar habita algumas espécies de ave, como os Flamengos Chilenos, Parina Chica, Parina Grande e alguns outros pássaros", conta Rogério Duarte em sua Galeria no flickr.
Vieste na hora exata
Com ares de festa e luas de prata
Vieste com encantos, vieste
Com beijos silvestres colhidos prá mim
Vieste com a natureza
Com as mãos camponesas plantadas em mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens, pra dentro de mim
Meu amor
Vieste a hora e a tempo
Soltando meus barcos e velas ao vento
Vieste me dando alento
Me olhando por dentro, velando por mim
Vieste de olhos fechados num dia marcado
Sagrado prá mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens, pra dentro de mim
sábado, 20 de setembro de 2008
Procurando ser literalmente fiel ao tema proposto pela organização do concurso, devo ter deixado a comissão julgadora indignada com minha ousadia em “ressuscitar” Glorinha (de Perdoa-me por me traíres), Hilda (uma das irmãs de Sete Gatinhos) e o próprio Nelson, na forma de espírito incorporado por uma de suas próprias personagens.
Após uma certa decepção ao ler os contos premiados com os primeiros lugares, todos acadêmicamente comportados e alheios à proposta de falar sobre as tragédias que se abatem atualmente sobre a cidade maravilhosa tendo como referência a obra deste grande (senão o maior) dramaturgo brasileiro, ficou a sensação de que valeu como exercício, como incentivo para novas incursões nesse gênero literário no qual jamais havia pensado antes em me aventurar.
Uma das coisas que aprendi com essa experiência foi não me preocupar com o que as pessoas podem dizer ou pensar a respeito deste e outros exercicíos literários que eu resolva praticar nessa área. Afinal, como dizia o escritor Mário de Andrade, “conto é tudo aquilo que o autor chama de conto”,
domingo, 14 de setembro de 2008
“Olhai os lírios do campo!” Ao fazer tal afirmativa, Jesus queria ampliar nossos horizontes. Sabe-se que no campo existem armadilhas contra a vida. As aves de rapina, os répteis, os rigores do inverno, o calor inclemente do verão. Os predadores, os animais de grande porte, as ervas daninhas... Apesar disso tudo, os lírios também surgem, emoldurando com sua beleza uma nova realidade. O problema é quando o campo, em síntese, na ótica de Jesus, uma alegoria da vida, do mundo, é visualizado somente através das grossas lentes do negativismo gratuito. Apesar de todas as adversidades da vida, há sempre a presença de algo belo a ser visto, focalizado, priorizado. E que, diante de um vastíssimo leque de sentimentos que a vida nos impõe, tais como o egoísmo, o individualismo, a soberba, a arrogância, há sempre a chance de cultivarmos o belo, o frutífero, o substancial, o edificante.
Há momentos na vida em que a mente se fecha. O horizonte divisado vai somente um pouco além das agruras do dia a dia. O belo da vida se perde diante da feiúra do contexto da existência. É preciso romper essa linha divisória que demarca a tristeza da alegria, a angústia da paz, o caos da ordem, da serenidade, da esperança. Quando o campo da existência está recheado de abutres, répteis e ervas daninhas, é necessário se crer que, mesmo num campo assim, a semente do lírio está lá, latente, pronta a brotar – a se fazer presente. A irradiar a vida com a variedade de suas cores, a emergir bela, firme, altaneira em meio à aridez da geografia social da atualidade. “Olhai os lírios do campo” é em sua essência uma receita inteligente de vida. Ou por outra, uma concepção ideal de vida para quem deseja enxergar a realidade atual como algo mais do que um mero passar de dias.
(Públio José, jornalista, publicitário)
(clique sobre a foto para vê-la ampliada)
Um dos criadores do movimento artístico chamado Impressionismo, do final do século 19, Claude Monet comprou, em 1890, uma casa e terras em Giverny, uma vila às margens do rio Sena, 60 quilômetros a noroeste de Paris. Lá ele criou um grande jardim florido, bem próximo de sua casa e, no pedaço de terra restante, mandou construir um lago que ele encheu com milhares de lírios multicoloridos. Como ele mesmo dizia, era “para o prazer de seus olhos e para servir de tema para a pintura”.
Le Clos Normand, primeiro pedaço de terra comprado por Monet possui 1 hectare, e um jardim feito de perspectivas, simetrias e cores. Nesse terreno, ele plantou flores perenes de tamanhos variados criando uma agradável sensação de volume, árvores frutíferas e ornamentais dominando o campo de visão. Várias flores foram misturadas neste terreno, em especial as margaridas e papoulas. O corredor central é coberto por arcos de ferro com rosas pendentes. Suas plantas foram escolhidas pela tonalidade de suas cores e deixadas crescer livremente pelo terreno, sem preocupação com as podas.
Nesse jardim podemos encontrar a famosa ponte japonesa e as ninpheas, tão elegantemente retratadas em suas pinturas. Com esse pano de fundo, Monet pode se inspirar por mais de vinte anos, dedicando-se a retratar sua natureza repleta de cores, reflexos, transparências e formas.
No final da tarde de ontem, em menos de 30 minutos sentado no quintal de casa, recebi a visita de um beija-flor, um bem-te-vi e três pequenos tico-ticos (que anos atrás apareciam aos montes e que atualmente parecem estar em plena extinção).
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, - e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, - e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, - e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, - e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida - e efêmera.